Câmara – 120 anos

 Apenas os compromissos que ainda me prendem a horários de aulas me impediram de comparecer, a 9 de maio,  à sessão comemorativa dos cento e vinte anos de instalação da Câmara Municipal de São José do Rio Pardo.

Além da data em si, importante, seriam justamente lembradas duas personalidades de relevância na consolidação da história da cidade: Amélia Franzolin Trevisan e Rodolpho José Del Guerra. Nem me deterei em ressaltar quanto São José do Rio Pardo lhes deve – uma por ter implantado metodologia científica  na localização, interpretação, uso e conservação de fontes primárias de documentação; outro, por muito ter pesquisado, classificado e  divulgado  tanta coisa de estrito interesse local e, por isso mesmo, sujeita a ser desconsiderada por pessoas de menos sensibilidade. O opúsculo lançado no dia da sessão solene bem resume o trabalho de ambos, qualificando-os como “eméritos pesquisadores, de imprescindível trabalho pela instituição da verdade histórica sobre São José do Rio Pardo – nascimento e vida: sua trajetória, sua gente”.

Felizmente, os bons exemplos dos dois historiadores de há muito se fazem sentir em algumas outras pessoas que se debruçam sobre textos antigos, conservados na Hemeroteca, nas bibliotecas e nos museus locais. Também essa mesma trilha palmilhou Antônio Fernando Torres, atual chefe de gabinete parlamentar, que uniu em seu empenho de atualizar os dados dos cento e vinte anos da Câmara algumas virtudes pessoais difíceis de encontrar-se numa só pessoa: ótimo conhecimento teórico-prático do idioma, familiaridade com o estudo e revisão de textos, longa prática jornalística, experiência política (até presidiu a Câmara)  e muita dedicação no cumprimento de suas atuais atribuições. O resultado desse consórcio de tantas qualidades é que faz do opúsculo Câmara Municipal, 120 anos  uma realização modelar no gênero.

Recebi-o do próprio Antônio Fernando Torres, num dia da semana passada em que lhe solicitei favor por vezes assemelhado a mastigar pedregulho – o repasse final nos oitenta artigos ou crônicas integrantes de Vidro de Aumento, livro já encaminhado à gráfica e  que pretendo lançar em breve, certamente depois da Copa do Mundo.

Como ele explica em nota introdutória, coube-lhe retomar o livrete de maio de 1986 (comemorativo do centenário da Câmara)  e após um ano de pesquisas  em atas, jornais, fotos, leis e outros documentos, lançar a atual edição, revisada e atualizada, com a recuperação de informações e o resgate de personagens.

Saiu-se muito bem na missão, passando ao leitor de hoje a clara idéia do respeito devido ao passado e de confiança que se há de depor no dias vindouros. Com os olhos voltados para trás, entender e conservar o tradicional de uma Câmara; com a visão de futuro, dotar este mesma Câmara dos instrumentos da modernidade.

O material ilustrativo que explica suas páginas acompanha esse mesmo pensamento: na capa, tanto está o atual e moderno prédio quanto o antigo Jardim do Artese em foto mostrando o exato local em que se implantou o novo edifício, na Praça dos Três Poderes. No contexto, diferentes visões de pessoas e de acontecimentos, além do registro iconográfico de todos os lugares onde se instalou em outros tempos esta mesma Câmara.

Câmara Municipal, 120 anos será consulta obrigatória em toda tentativa de estudar a história de nossa cidade.

Um neto meu, com seus dez anos de vida, ao saber que era eu quem aparecia numa foto de 1974 (página 14 do folheto), não escondeu nem um pouco sua decepção:

-- Puxa, vô, se não estivesse escrito seu nome, eu nunca ia adivinhar!

É isso, de 1974 até agora se passaram trinta e seis anos e tudo mudou. Até posso me dar por privilegiado, porque dos envolvidos naquele flagrante fotográfico (o prefeito Lupércio Torres, o vice Moacir de Ávila Ribeiro, o secretário da Câmara (Nélson de Ávila Ribeiro) e o vigário (monsenhor Adauto Vitali), só eu sobrevivo.  Ainda bem que também aparecem João Estêvão Ribeiro Nogueira (Zada) e Célio Chiconello... Trinta e seis anos é bastante tempo em qualquer vida.

Muito significativo o documento da página 28, em que, com a Câmara ainda funcionando naquele salão do atual Museu Rio-Pardense, o primeiro à direita, travam acirrada discussão, lá pelos anos cinqüenta, Eduardo Vicente Nasser e Paschoal Artese. Batem boca, de dedo em riste,  sob os olhares interessados do também vereador Ruy Andreolli e da platéia que tudo acompanha a menos de dois metros dos litigantes. Não aparecem as moringas de água que ficavam sobre a vasta mesa em torno da qual se reuniam os vereadores. Não só uma vez elas serviram de armas de ataque, no calor das controvérsias...

Vale a pena ler com cuidado o opúsculo, tão cheio de informações e tão bem ilustrado. De notar-se, ainda, às páginas 40 e 41, a  reprodução e descrição da bandeira municipal, instituída por concurso, em 1966, vencido pelo professor de História,  Paulo Caio de Araújo Leme, tendo ao centro o brasão do município em que estão heraldicamente inseridos o barrete frígio (símbolo da República), os lírios do padroeiro São José, a ponte metálica e o rio Pardo, duas coroas de louro entrelaçadas (a glória de Euclides da Cunha), as cinco torres  da autonomia municipal e o nome que a cidade acabou rejeitando para si mesma – “Cidade Livre do Rio Pardo”, decorrência do Episódio Republicano de 11 de agosto de 1889.

Leio a lista de todos os vereadores (p. 27 a 32) e de todos os presidentes da Câmara ( 33 a 36),  cargo que exerci com muita honra entre 1.° de fevereiro de 1977 e 31 de janeiro de 1979 ( biênio completo). Todos os chefes do Executivo estão arrolados entre as páginas  43 e 45.

A letra do Hino a São José do Rio Pardo, de autoria da Prof.ª Ilse Sebastiana de Paiva Manita e cantado ao fim de todas as cerimônias na Câmara, está na p. 42.  Até hoje não entendi  por que nele está que o rio Pardo  avança pelo rumo sul, quando na verdade seu curso é rumo ao norte, desaguando no rio Grande. Seria só  para rimar com azul?

Numa cidade que resguarda com tanto zelo o seu passado, não pode deixar de ser feita, de tempos em  tempos – de década em década talvez – a atualização nos moldes desta, que Antônio Fernando Torres concebeu e realizou, contando com esforçado corpo de colaboradores justamente nomeados no livreto.

Que sempre a cidade em geral e a Câmara em particular contem  com pessoas capazes de levar avante tarefas desse porte. Não é fácil, reconheça-se.

 

13/05/2006
(emelauria@uol.com.br)

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