(foto: Sicca Imagem)

Cristo Redentor

Imponente estátua  construída em Campinas e trazida desmontada para esta cidade, nos anos 40. Colocada num dos morros circundantes, tem ao todo 17 metros, sendo 5 do pedestal, que abriga pequena capela. Os 17 metros lembrariam as 17 letras do nome de São José do Rio Pardo... Descortina-se de excelente panorama. É ponto de grande potencial turístico, ainda não convenientemente explorado. (texto do Prof. Márcio José Lauria)

 

 

Um pouco da história da construção do monumento
Expressão de fé é o monumento a Cristo Redentor entronizado na colina rio-pardense

Manuel de Souza Rosa - um benemérito

Português, natural de Leiria, localidade próxima a Fátima, era filho de Antônio de Souza e de Rosária de Jesus; morava na rua Campos Sales.

Solteiro, de algumas posses, com profundo sentimento religioso, praticava a caridade socorrendo os pobres, mas seu mais belo gesto, seu mais alto sonho foi o de ofertar a São José do Rio Pardo a imagem do Cristo Redentor que se tornou um marco na paisagem rio-pardense.

Ao planejar e executar tal empreendimento, teve os benefícios de sua profissão: pedreiro, experiência que muito lhe valeu.

Generosamente, com recursos próprios (financeiros e mão de obra), deu início aos trabalhos preliminares do que seria nosso mais belo monumento; trabalho árduo, num local de difícil acesso, carência de água e falta de instrumentos adequados.

Com suas mãos removeu e cortou as pedras do pico do morro; como símbolo desse trabalho titânico, pediu que fosse conservada a grande pedra que se encontra atrás da imagem.

Manuel de Souza Rosa é digno do reconhecimento da comunidade, por ter sido o incentivador da obra, não por palavras, mas por um trabalho silencioso de mais de seis anos como canteiro, pedreiro e diretor de obras, além da dádiva do custo total da imagem.

Por isso, lá no pedestal, há um placa com os dizeres: "Ao senhor Manuel Rosa iniciador e doador desta imagem, gratidão do povo católico de São José do Rio Pardo -1944".

Por indicação da Câmara foi dado seu nome a uma rua do bairro Santo Antônio.

Manuel Souza faleceu em 10 de julho de 1959, aos 86 anos de idade: seu túmulo, doação da Câmara, olha de frente para o Cristo Redentor.

Os Donativos - o terreno onde foi erigido o monumento no pico do morro chamado de Santo Antônio, pelos primeiros povoadores e que pertenceu a uma extensa sesmaria, foi doado pelos herdeiros do Dr.Leão Ribeiro de Oliveira e por Rafael Moreno, Geraldo Maurício de Souza e Francisco Rueda, cujas escrituras foram passadas à Prefeitura; a servidão da estradinha de acesso foi instituída por Aristides Junqueira e parte do terreno cedido por Paschoal Merlo.

Comissão Pró-Monumento - uma comissão pró-monumento foi formada para dividir o pesado encargo que caia somente sobre o senhor Manuel Rosa.

Assim, em março de 1944, reuniram-se mais de 30 pessoas, inclusive o Prefeito Municipal e o representante do Rotary Club.

O Rev.Vigário Adauto Vitali indicou os nomes e foi eleita a seguinte comissão:

Gabriel Braghetta - presidente
Valêncio Bulcão - vice-presidente
Otávio Pereira Leite - secretário
Dr.Agripino Ribeiro da Silva - tesoureiro
Manuel de Souza Rosa - diretor de obras

Como ficara combinado, a Comissão Pró-Monumento tratou logo de angariar fundos; cada membro da Diretoria encarregou-se de uma lista; os donativos de 5 a 1.000 cruzeiros, alcançaram um total de 44.000 cruzeiros que foi a contribuição do povo rio-pardense.

Manuel de Souza Rosa doou a imagem no valor de 37.000 cruzeiros; o Governo do Estado contribuiu com 20.000 cruzeiros e a Prefeitura com 10.000 cruzeiros; o Dr.José Ramos Barreto doou um transformador no valor de 5.000 cruzeiros; e Gabriel Arcanjo Junqueira, 3.000 cruzeiros.

 

O Monumento

altura da estátua: 12,50 metros
pedestal: 4,5 metros
Total: 17 metros coincidindo com o número de letras que formam o nome da cidade.

O artista campineiro Otaviano Papaiz construiu a estátua em cimento armando e revestida de cimento branco. Ele também realizou as esculturas de nossa Igreja Matriz.

A estátua construída em Campinas, em peças separadas, chegou de trem em outubro de 1945; em sua montagem trabalhou Luís Chiari.

A iluminação contou com a colaboração da Companhia Paulista de Energia Elétrica e trabalhos de João Fagiolo, técnico da Casa Braghetta. Foi instalada ao custo de 42,00 cruzeiros. Na noite de 7 de dezembro de 1947, foi vista a majestosa imagem toda iluminada, coroando o idealismo de um homem e seis anos de trabalho da comunidade.

A inauguração oficial do monumento foi parte das cerimônias do 3º Congresso Mariano da Diocese de Ribeirão Preto com a presença do bispo D.Manuel da Silveira d'Elboux; no dia 19 de novembro de 1949; em missa campal presenciada pela autoridades e numero público.

O Sonho - de braços abertos, em perpétua vigília, acolhendo e abençoando, a imagem de Cristo recorta-se nos róseos poentes e olha as claras madrugadas cor de ametista refletidas no rio Pardo.

A noite, em azulado encanto, suspenso entre o céu e a terra, conforme as conjunções celestes, ora tem a iluminá-la a lua em crescente e uma estrela solitária, ora emerge em uma nuvem de névoa.

Manuel Rosa, como no sonho sonhado vê no cimo da montanha, a imagem de concreto, em eterno colóquio com suas solidões: o céu, o vento, a terra e a chuva.

(parte do texto da Profa. e Historiadora Amélia Franzolin Trevisan publicado pelo jornal "O Democrata" em 08 de novembro de 1997)

 

No alto do morro, o sonho de um benemérito

Jornal O Democrata - 08/08/2009

Gabriel da Silva Vicente

O Cristo Redentor do Rio de Janeiro é um monumento de referência nacional. Localizado no ponto mais alto da Cidade Maravilhosa, foi construído para ser símbolo de devoção e referência na paisagem carioca.

A obra, idealizada pelo arquiteto Heitor da Silva Costa, levou cinco anos para ser concluída, custando 2.500 cruzeiros, angariados em subscrição popular. A inauguração do Cristo carioca aconteceu em 12 de outubro de 1932, com benção solene do cardeal dom Sebastião Leme. O monumento Redentor chamou a atenção não só do Brasil, mas de todo o mundo.

Algum tempo se passou e os rio-pardenses não queriam mais olhar para a colina mais alta da cidade sem um símbolo que representasse a fé do povo. Imaginavam como seria belo apreciar uma grande estátua de São José ou até uma cruz que iluminasse o abrupto morro.

Inúmeras idéias enfeitavam o imaginário de cidadãos, porém apenas uma pessoa decidiu colocar não só a sua, mas a imaginação de uma população inteira em prática.

Manuel de Souza Rosa, português natural de Leiria, cidade próxima a Fátima, era filho de Antônio de Souza e de Rosária de Jesus. Morava em São José, na rua Campos Salles, era solteiro, com algumas posses, profundamente religioso e praticava a caridade socorrendo pobres e crianças carentes. Sua devoção era tanta que seu sonho mais alto e belo era o de ofertar para a cidade uma imagem do Cristo Redentor. Mesmo sabendo que este ato seria audacioso demais e poderia levar muitos anos, estava decidido a realizar seu sonho.

Reconhecendo a coragem de Manuel Rosa, proprietários da área onde se encontra a colina, remanescente de extensa sesmaria, cederam partes de seus bens para que fosse erigido o monumento no terreno. O local era chamado de Morro Santo Antônio, devido ao vilarejo abaixo que hoje se tornou um bairro, o mais antigo da cidade. O topo da colina era de posse do doutor Leão Ribeiro de Oliveira, o caminho de terra, que ainda hoje é utilizado por muitos, era de posse de Rafael Moreno, Geraldo Maurício de Souza e Francisco Rueda.

Com recursos próprios e mão-de-obra, Manuel de Souza Rosa iniciou os trabalhos. Pedreiro, ele aproveitou ao máximo a experiência de sua profissão que ali muito valeu. A preparação do terreno foi bastante complicada, devido ao difícil acesso ao alto do morro, além de pouca água. Dispondo de ferramentas simples, ele cortou e removeu com as próprias mãos pedras enormes do alto do morro. Uma grande rocha foi conservada, a seu pedido, atrás de onde ficaria a estátua. Esta é símbolo de seu trabalho e dedicação silenciosa.

Logo que cimo do morro já se encontrava esplanado, Manoel Rosa começou a imaginar como seria a estátua e encomendou um projeto ao escultor Guido Bozzini.

Tão logo circulou a notícia, o jornalista Valêncio Bulcão decidiu subir ao alto da colina e confirmar aos seus leitores esta possível questão. A partir daí, a Prefeitura Municipal percebeu que o alcance da idéia de Manuel Rosa era mais alto do que se poderia imaginar, duvidas pairavam sobre sobre as pessoas que não imaginavam como um homem solitário conseguiria um feito quase impossível. Desta forma, foi proposta a criação de uma comissão que o ajudasse a angariar fundos para a construção do monumento. A proposta seria aceita desde que Manuel Rosa continuasse tendo plena responsabilidade sobre a obra e o acordo foi fechado. De início, foram escolhidos três nomes para acompanhá-lo nos trabalhos: Octávio Pereira Leite, Valêncio Bulcão e Agripino Ribeiro Silva. A primeira reunião foi marcada e realizada na Casa Paroquial da Igreja Matriz de São José.

Como previsto, a Comissão Pró-Monumento tratou de arrecadar junto à população rio-pardense donativos imediatos para a obra que variavam de 5 a 1.000 cruzeiros, alcançando um total de 44.000.

Manuel de Souza Rosa desembolsou 37.000 cruzeiros para a construção da imagem, o Governo do Estado contribuiu com 20.000 cruzeiros, a Prefeitura com 10.000. Dr. José Ramos Barretto doou um transformador no valor de 5.000 cruzeiros e o fazendeiro Gabriel Arcanjo Junqueira 3.000 cruzeiros.

O plano inicial de Manuel Rosa contava com uma esplanada e balaústres no centro, onde seria erguido o monumento, juntamente com um pedestal com 4,5 metros de altura, além de um altar de mármore onde seriam realizadas missas e preces. A estátua teria 10 metros de altura e a mesma mediada de uma mão a outra. Seria construída de cimento armado com revestimento em cimento branco, definitivamente uma réplica da grande estátua do Rio de Janeiro.

Estava prevista também a construção de uma avenida de acesso, de 12 metros de largura e ao longo dela seriam construídas 14 capelinhas da Via-Sacra do Calvário, no caminho até a imagem. O belo projeto inicial foi posteriormente mudado, começando com a altura da estátua, que passou a ser de 12,4 metros para que, na soma com a altura do pedestal, chegasse a 17 metros, número correspondente às letras do nome de São José do Rio Pardo. Tendo o contrato com Guido Bozzini quebrado, possivelmente por questões financeiras, a Comissão Pró-Monumento abriu em julho de 1944, uma concorrência pública para a construção da imagem. Foi escolhido o artista campineiro Otaviano Papaiz, que já havia feito trabalhos em gesso para o Congresso Eucarístico.

A primeira festividade no alto da colina, foi uma missa campal no dia de Santa Cruz, 3 de maio de 1944, quando foi abençoado o pedestal. Na ocasião, cerca de dois mil romeiros partiram da Matriz de São José e participaram da solenidade que contou com a presença de autoridades municipais. O evento marcaria o início da construção do grande monumento.

Uma maquete do projeto foi colocada em exposição na vitrine da Casa Braghetta, ao lado da Matriz, onde ficou exposta no início de 1945.

A estátua do Redentor foi construída em Campinas em partes separadas, peça por peça, veio transportada para São José do Rio Pardo de trem, chegando em outubro de 1945. Foram levadas para o alto do morro em lombo de burro. Em sua montagem trabalhou Luis Chiari.

Com a estátua montada e os retoques finais ajustados, as forças então se concentraram para que a avenida de acesso fosse concluída e a rede de iluminação instalada. Esta ajuda foi recebida da Companhia Paulista de Energia Elétrica e trabalhos feitos por João Fagioli, técnico da Casa Braghetta.

Na noite de 7 de setembro de 1947, foi vista, pela primeira vez, a bela e iluminada estátua do Cristo Redentor.

A plenitude da escultura coroava o pico do velho Morro Santo Antônio que já não estava mais vazio, agora havia algo muito mais glorioso para se admirar. Luz que refletia na escultura, estava a visão de coragem, audácia e conquista de Manuel de Souza Rosa e de todos que ajudaram naqueles longos seis anos de trabalho.

Era o início da benção permanente que receberíamos de Cristo Redentor, a partir dali, manteria sempre seus braços abertos sobre nós.

Manuel de Souza Rosa preparou o altar onde foi celebrada uma missa pelo padre Adauto Vitalli. Após a benção da imagem, foi inaugurada também uma placa contendo nomes da comissão. O nome de Manuel Rosa não encabeçava a lista, ao contrário, figurava em último lugar. Alguns rio-pardenses que reconheciam o valor do benemérito, inconformados com o ato, fizeram então uma placa em separado, prestando-lhe assim uma justa homenagem. Depois disto misteriosamente a primeira placa com o nome de todos os colaboradores desapareceu e nunca mais foi encontrada.

Atrás do pedestal no alto do morro, ainda pode ser vista a inscrição com os dizeres: “Ao Senhor Manuel Rosa indicador e doador desta imagem, gratidão do povo católico de São José do Rio Pardo - 1944”.

Manuel de Souza Rosa contemplou seu sonho da janela de sua casa por 12 anos, vindo a falecer em 10 de julho de 1959, aos 86 anos de idade. Como homenagem, foi sepultado em um túmulo doado pela Prefeitura. O jazigo, enfeitado com uma réplica da imagem, está voltado para o morro.

Hoje no bairro Santo Antônio, uma rua de acesso ao Cristo leva o nome do benemérito, homenagem dada pela Câmara Municipal após sua morte.

Muitas pessoas que hoje avistam o grandioso Redentor sempre de braços abertos, nem imaginam o esforço que está envolvido na história da construção deste monumento de extrema beleza. No alto do morro estão os sonhos concretizados e o dever de missão cumprida.

Manuel de Souza Rosa é prova de que tudo é possível quando a bondade e a vontade de lutar por ideais é maior que tudo.

FONTE: “O Cristo Redentor Desceu na Colina”, da historiadora Amélia Franzolin Trevisan

 

 

 

 

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